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14 de mar. de 2015

Despersonalização e discursos de ódio

Despersonalização criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14-03-2015
Despersonalização*, criado em 14-03-2015.

Existe alguém esperando por você, que vai comprar a sua juventude e convencê-lo a vencer mais uma guerra sem razão.
Já são tantas as crianças com armas na mão, mas explicam novamente que a guerra gera empregos, aumenta a produção.
Uma guerra sempre avança a tecnologia…

(Legião Urbana — A canção do Senhor da Guerra)


Há discursos de ódio e alguns discursos que odeio.

No primeiro caso, geralmente, fruto da ignorância, da insegurança, da manipulação. A fragilidade emocional escamoteada pela busca de pertencimento e do fazer parte do senso comum: se a maioria tá fazendo, é o correto, eu faço.

Sinto pena dos que adotam o discurso e assumem sua prática. Historicamente, os bons cidadãos se calaram diante de ações fruto de ódio, não se posicionaram contra e com isso as fortaleceram e perpetuam. Não seria necessário exemplificar o que foi produzido com os discursos de racismo da Klu Klus Klan ou do nazismo para demonstrar o alcance desse tipo de discurso. O triste é que ambos tiveram apoio de igrejas e famílias de boa reputação. Será que foi por isso tão fácil ignorar os assassinatos, as agressões covardes, os estupros e tantos outros horrores?

A história geralmente se repete, e a cada época se escolhe algo, alguém ou ideia para Judas: tornam-se o bode expiatório da inadequação.

Alguns discursos eu odeio por serem bem estruturados, estilisticamente bem executados, ocultando seus falsos pressupostos com silogismos, trechos de escrituras sagradas, interpretações distorcidas. Ao final, induzem à adesão de suas práticas e, no seu limite, descambam para atos da raiva. Em sua base principal de sustentação, a necessidade de aceitação e o desejo de pertencimento e de adequação das pessoas.

Todos esses discursos promovem modismos, a repetição de palavras e expressões, um estilo vestir-se, determinados lugares. Em outras palavras, sua despersonalização em troca do pertencimento.

"Seja um de nós e jamais estará sozinho. Se não é um dos nossos está contra nós". Discursos produtores das expressões diárias de ódio, promotores dos interesses escusos daqueles que os articulam, financiam e divulgam. Geralmente o capital financeiro de mega corporações e de elites que desejam se perpetuar. Aqui inclui-se a promoção de separatismos e da guerra. Seu mecanismo de disseminação é o investimento no controle midiático: dinheiro compra o poder.

No dia a dia repetimos: ostentação, nordestino é burro, baiano é preguiçoso, você é um perdedor, pobre devia morrer. Alguns exemplos, sempre justificados com falsas informações. Frases de efeito, carregadas de preconceitos, afirmam que é preciso se destacar no mundo, o nordeste sempre foi terra de seca e sustentado pelo sudeste-sul, baianos fazem sesta e são lentos para tudo, para ser vencedor como [Eike, Jobs, Ator tal…] é preciso… e aqui entra como eles vão faturar seu dinheiro.

Esse nível de discurso, quando acolhido, prepara o principal: o da manipulação político social. O garoto(a) propaganda, diariamente valorizado pela mídia, faz a grande massa copiar seu cabelo, suas roupas, suas frases, suas músicas. Inclusive as ideias políticas. Acriticamente absorvidas por quem se despersonaliza para ser como o astro.

Em um mundo onde todos querem ser diferenciados, a massificação é a tônica. E a crítica…, bem, a crítica foi para um lugar bem longe…

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de março de 2015.

* No campo clínico, a despersonalização é a alteração da percepção sobre si mesmo. Manifesta-se de forma mais evidente pela ansiedade, depressão e ataques de pânico. Em seu processo, o indivíduo deixa de sentir e de reconhecer o próprio corpo. Identifica-se como causa principal o passar por situações físicas ou psicológicas traumáticas que geram desespero e necessidade de refúgio. Num sentido amplo, a sensação de não pertencer a um grupo, e de ser alguém.
A sociedade atual promove uma despersonalização quando, ao invés de incentivar a expressão de características pessoais, investe na massificação. Do que vestir ao que falar, o sujeito deve incorporar o padrão social. O que fica em oculto são os interesses que atravessam esse investimento perpetrado por alguns grupos que se encontram no poder político, financeiro e midiático.

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