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28 de dez. de 2016

Por uma geração inventora

MMXVII, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em colaboração com Beto Lobo e Luis Cláudio da Rocha Prét, em 10-12-2016.
MMXVII*, criado em 10-12-2016.

Encostei a cabeça na parede, escutando o zumbido do silêncio; Eu me exauri especulando se teria colocado em curso o resultado certo ou o errado. Não é uma surpresa que eu não tenha conseguido dormir ontem à noite. Fiquei me perguntando no que daria aquela ligação, se é que daria em algo; se algum sonho ou pesadelo estaria tomando forma no nosso futuro, avolumando-se como uma tempestade, tornando-se real. Mas, também pensei, com aquela velha felicidade astuta: Independentemente do que o amanhã traga, você pode estar certa de pelo menos uma coisa, Edgewater: esta noite você deu a história da Dori a um desconhecido.
(Karen Russel — Doadores de sono)


Profetas de um futuro determinado indicam agarrar com unhas e dentes suas oportunidades, como se fossem exclusivas. Excluem da previsão as miríades de outras que, também, têm algo a presentear, que irão acrescentar elementos essenciais que — ainda que, neste momento, a razão seja incapaz de relacionar — irão compor seu campo de energia e o propulsionará ao adiante, ao novo.

O costume é algo perigoso. Geralmente, ele engessa novas descobertas.

A partir do momento em que o inventário pessoal de experiências permite atalhos reprodutores como o Copia e Cola 'algo está errado que não está certo', nas palavras do quase filósofo Beto Lobo, meu irmão. A vida produz rotatividade, apenas com aparência de repetição, que consiste em agregações. Cada curva ganha um novo patamar e novos elementos são anexados. Degraus de uma espiral ascendente.

Registros de 'tempo' como aniversários, dias primeiro ou segundas-feiras deveriam remeter ao inusitado, ao que iremos experimentar visando ampliar o espectro do que somos capazes – de identificar, de escolher, de vivenciar, de compartilhar – e que permite ultrapassamentos, não apenas reinício ou repetição. Tão óbvio quanto tão pouco entendido ou praticado.

Dói observar o embotamento produzido na alma brasileira, corroída e desgastada. Em que pese que todo o arsenal humano se baseia no desgastar e se reconstituir, o processo é por aquisição de novos elementos, transformar-se no sentido da evolução e não da mesmice. Por isso, as regras que dão continuidade estática, como roteiro de peça onde até o protagonista agoniza sua reprodução esquemática, são apenas induções marionéticas, midiopáticas, comandos viralizados por marketing social.

Ousadia é manipular essas articulações e se permitir inovar o texto, a cada novo contexto. Adaptar tem potencial para ser o passo inicial do inventar.

Quero crer na proximidade de uma geração inventora, contra todas as previsões contrárias. Uma que acolha mais pensamentos criativos que uma razão estruturadora; cujos olhos não estão, por escolha própria, obstruídos, embotados, ou com antolhos; cujo falar, ouvir e expressar provoque questionamentos, [re]avaliações, refazimentos de práticas. Talvez, meu imbatível desbravador de práticas, Luis Cláudio Prét, por me encantar com os movimentos criativos dos antigos e, mais ainda, dos pequenos novos filhotes do meu coração (como os Lucas, Pedros, dentre outros nomes), ou contaminado por essa pequena ruptura das rotinas, promovida pelo final de um ciclo de contagem, vou me permitir vislumbrar um horizonte contrário ao que o pessimismo quer me incutir.

Pouquíssimos ciclos expansivos são conquistados por transição suave, imperceptível; geralmente, por uma atividade coletiva e de intervenção consciente e colaborativa: minhas capacidades se reúnem com outras e se estruturam como um único organismo. No microcosmo e no macrocosmo os indícios me promovem esse pensamento. Alguns, por intervenção de uma ordem de grandeza desconhecida e externa – um pedaço de pedra cai na terra e muda a sua superfície, talvez algo não tão drástico! – que impõe o reequilíbrio ou o desfazimento total.

Aprendi que, na iminência do precipício, uma parcela importante dos seres humanos retoma seu potencial máximo de colaboração e atua para a transformação. A emergência de movimentos estudantis defensores de direitos e promotores de novas conquistas estão me encantando. As formas de colaboração em rede, especialmente as científicas, também. É pouco. Mas, uma vez que o gatilho foi disparado, a reação é em cadeia mundial.

Erros continuarão sendo cometidos. Novas propostas serão abduzidas ou cooptadas por grupos de interesses antagônicos. Novas lideranças serão corrompidas. Sou consciente disso, meu querido Eric Bragança. Inclusive porque essas decomposições das forças de transformação constituem-se como um elemento positivo: nada deve se permitir estagnar. Superação exige, a cada impedimento, refazer o percurso até que a composição de forças permita retirá-lo do caminho. Talvez, algo melhor: transformá-lo e utilizá-lo para alcançar uma propulsão maior.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de dezembro de 2017.

* MMXVII (2017, em algarismos romanos) é uma obra colaborativa cuja estrutura básica resultou de um 'papo cabeça' com meu amigo Eric e que recebeu interações de pensamentos com meu filhote Claudinho (Brasília-DF) e com meu irmão Beto. Foi estampada em camisas para a Virada deste ano. Nas costas (não apresentado aqui) está o texto: Impossível, uma fronteira a ser ultrapassada.
Este ano de 2016 mostrou-se nefasto para o olhar do homem comum, em mim. Ao mesmo tempo, para observador atemporal, em mim, extremamente promissor para a efervescência de novos modos de ser e estar coletivos. Dizem que tudo depende da perspectiva, mas, prefiro crer, que tudo depende da percepção de um mundo que alguém se potencialize para construir. Que os fluxos sejam expansivos, potencializadores, inovadores e incendeiem um fogo interior que nos encaminhe para o indizível, o impensável e à plenitude do ser.
[Minha gratidão pelo esforço de elucidação da impecabilidade do guerreiro, Dom Juan!]

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