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21 de set. de 2017

Retorno à caverna

Caverna, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 16-09-2017.
Caverna, criado em 16-09-2017.

Talvez, o futuro nos prepare uma surpresa:
um resgate nessa louca correnteza, qualquer nave que nos leve pelo espaço encontrar os deuses;
Talvez, um herói venha a surgir por entre as cinzas; das ruínas se levante, alcance a gloria,
e na moral da história o mito acabe com a razão.
Mas a verdade está cima do bem e do mal. Nossa lógica furada é a arma mais mortal:
a raiz de todo erro, a medida desse medo de mudar e achar o avesso, nosso fim, nosso começo.
É a nossa visão congelada no tempo esperando as respostas caírem do céu:
acreditar nas lendas do que virá é um álibi perfeito e tudo fica como está.

(Guilherme Arantes — Nosso Fim, Nosso Começo)


De inócuo não há nada nos discursos e ações que, aproveitando questões sociais ainda não elaboradas por grande parte da população, desqualificam a Ciência como um todo em prol de um determinado tipo de visão religiosa. Na mira dos que desferem os ataques, inclusive literais e físicos, as motivações para abortos, os gêneros e os espectros sociais, o ensino crítico e não religioso, e os pensadores de sistemas políticos financeiros não capitalistas e seus defensores.

Antes de prosseguir, um esclarecimento: há pesquisadores das religiosidades renomados em diversos campos científicos, buscando teorias ou comprovações que remetam às possibilidades de um ser inteligente e superior na constituição de grande parte, ou o pleno, do universo – diferindo totalmente da proposta dos fundamentalistas. Aliás, se posicionando contrariamente a estes.

No Brasil, há diversos líderes religiosos midiáticos apoiando políticos com discursos extremistas similares aos utilizados na Idade Média. Banalizam os crimes perpetuados por ditaduras civil, empresariais e militares, conclamam a retirada dos direitos conquistados por minorias, recorrem a discursos preconceituosos e sexistas afirmando que estão defendo a instituição família. Propõem a retomada de ações destrutivas e excludentes: as queimas de livros e de reputações – o lawfare* é a nova roupagem da 'caça às bruxas'.

Para estabelecer suas pautas, realizam acordos espúrios com representantes comprovadamente corruptos no campo político visando obter facilidades para a aprovação de leis que impedem o ensino ou divulgação de vias de pensamento diferenciadas das que defendem como hegemônica.

A seguir suas proposições, destruiremos os últimos baluartes do Conhecimento e apagaremos as chamas da última fogueira a sustentar a visão plural e respeitosa, não atrelada aos [pre]conceitos religiosos radicais e legalistas. Historicamente repetido de tempos em tempos, o movimento extremista é pendular e, após gerar genocídios de corpos e almas, deteriorará a vida em prol de uma suposta 'verdade'.

O objetivo final é o controle social. O que, neste momento, pode parecer banal, mas a história o comprova que é um movimento sem retorno que nos encaminhará, por meio de uma midiotização legalizada, à cauterização das consciências (já produzimos escravidão indígena e negra e genocídios de judeus, que evoluíram para o massacre racista de negros pobres, o trabalho infantil e/ou análogo ao de um escravo, e para o ataque aos estrangeiros, atualmente) e, por fim, à ignorância coletiva – que fatalmente nos levará de volta às cavernas.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de setembro de 2017.

* Lawfare é dar legalidade aos abusos, manipular as leis para atingir inimigo político; é usar estratégia abusiva do direito em vez de métodos militares.

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